Eu creio na vida eterna e na feliz ressurreição: Finados 2017

Na origem e no fim de nossa existência terrena está o Mistério de Deus que nos ama como Pai Amoroso, cheio de misericórdia e compaixão. Entre essa origem e esse fim, somos chamados a viver como filhos e filhas de Deus e, portanto, como irmãos, feitos à imagem e semelhança de Deus, chamados à vida fraterna, sendo Jesus Cristo nosso caminho, verdade e vida.

Pouco tempo atrás nós não existíamos e agora estamos aqui. Nada fizemos para entrarmos neste mundo. Recebemos a vida como dom. Nascemos do amor. Com a mesma força com a qual o Mistério infinito e eterno quer o sol brilhando de dia e as estrelas de noite, quer a nossa vida. O Mistério Criador se serviu de pai e mãe para nos trazer a este mundo. Dentro de algum tempo, a nossa existência terrena terminará. Aquele Mistério, que nos quis e nos quer agora, nos aguarda e nos acolhe na morada definitiva, onde encontraremos a plena realização, a paz e a felicidade que muitas vezes nos faltou aqui na terra.

Somos convidados a viver nesta terra “com equilíbrio, justiça e piedade”, amando a Deus sobre todas as coisas e ao nosso próximo como a nós mesmos, encontrando nossa realização fazendo o dom sincero de nós mesmos para o bem e a felicidade de outras pessoas, como Jesus.

O ideal do bom samaritano que se compadece do irmão ferido e o socorre é o caminho para encontrarmos paz nesta terra e na eternidade. Quem, porém, vive como Caim que matou seu irmão Abel ou como o predador que de todos procura tirar vantagem, sem respeito pela sua dignidade e pela justiça, terá uma eternidade sem a paz que deseja, pois cada um será julgado a partir de seus atos.

A morte entrou no mundo por causa do pecado (Gn 2,17; 3,3; 3,19; Sb 1,13; Rm 5,12; 6,23). Mas, na sua infinita misericórdia, Deus quis abraçar a nossa humanidade e quis compartilhar todas as circunstâncias de nossa existência, inclusive o sofrimento e a morte.

Jesus desceu à mansão dos mortos, desceu até as situações mais baixas da condição humana (descendit ad ínfera), inclusive a morte e ressuscitou, isto é, venceu o mal e a morte, abrindo caminho para que nós também certo, passemos para a vida nova da ressurreição. Por isso, a morte não é o fim de tudo. “A vida não é tirada, mas transformada”. Graças ao batismo, o cristão já está sacramentalmente “morto com Cristo” para viver uma vida nova.

Pela morte, a alma é separada do corpo, mas na ressurreição final, Deus restituirá a vida incorruptível ao nosso corpo, unindo-o novamente à nossa alma. Assim, como Cristo ressuscitou e vive para sempre, todos nós ressuscitaremos no último dia. “Cremos na verdadeira ressurreição desta carne que possuímos agora”. Essa é a razão da nossa esperança de que não caminhamos para a destruição, mas para a plenitude da vida, em Cristo ressuscitado.

A morte constitui um drama do qual é melhor aproximar-se não solitariamente, mas acompanhados. Por isso, quando rezamos a Ave Maria, pedimos “Rogai por nós pecadores, agora e na hora de nossa morte” e nos entregamos a São José, padroeiro da boa morte.

Refletir sobre a morte nos coloca diante do Mistério, nos alerta a respeito desta realidade grande e nobre que é a vida humana, que recebemos como dádiva e nos permite pensar a morte à luz da vitória de Cristo sobre a morte. Por isso, dia de Finados é dia de saudades de quem foi à nossa frente na morada eterna e de esperança, na certeza da feliz ressurreição.

Dom Carlos Petrini

Bispo de Camaçari

Presidente do Regional Nordeste 3 da CNBB

Fonte: Site Diocese de Camaçari

LITURGIA DIÁRIA