Em março de 1549, com a expedição do primeiro Governador Geral, Tomé de Souza, chegavam a Salvador os primeiros jesuítas. Em 1563, em Roma, o jesuíta belga Jean Leunis fundou a primeira Congregação Mariana, para fomentar a devoção à Virgem Maria e incentivar seus membros a buscar a proteção dela. Em 1583, as Congregações Marianas começavam no Brasil, precisamente no Colégio dos Jesuítas da Bahia, em Salvador, sob a responsabilidade do Bem-aventurado Pe. José de Anchieta. No ano seguinte, o Papa Gregório XIII deu sua aprovação oficial a esse movimento eclesial, que passou a contar com o apoio oficial da Igreja.
As Congregações Marianas nasceram num ambiente caracterizado pela valorização do lugar de Maria na obra da salvação. A partir do século XII, com a multiplicação dos estudos mariológicos, seu papel passou a ter um lugar de destaque não só na espiritualidade cristã, mas, também, na literatura e nas artes. Para os jesuítas, a devoção mariana era e é vista como um caminho rápido e seguro para se chegar a Cristo; seu fundador, Inácio de Loyola, atribuía à Virgem Maria a própria conversão.
As Congregações Marianas, escolas de piedade e vida cristã, deram à Igreja, até o presente, pelo menos 62 santos canonizados e 46 bem-aventurados, 22 fundadores de Institutos Religiosos, inúmeros mártires e missionários e uma multidão de leigos de vida cristã exemplar. De 1567 até agora, entre os 31 Papas que ocuparam a Cátedra de São Pedro, 25 eram congregados marianos, inclusive o Beato João Paulo II que, aos 14 anos, foi membro-fundador de uma Congregação Mariana em sua cidade natal, e Bento XVI, que pertenceu à Congregação de Regensburg. Interessante: em março deste ano, quando as Congregações Marianas celebravam os 450 anos de sua fundação, foi eleito Sumo Pontífice o congregado mariano e jesuíta Papa Francisco.
As Congregações Marianas buscam levar seus membros a uma doação solene e irrevogável à Santíssima Virgem, reconhecendo-a como senhora e soberana, oferecendo-lhe todos os momentos da vida. Procuram aproximar-se dela para serem totalmente de Cristo. Afinal, ninguém como Maria soube imitar e agradar tanto a Jesus. Essa ideia de oferecimento e dom total a Maria pode levar algumas pessoas a se perguntarem: é lícito fazer isso? É conveniente tal entrega a Maria?
Oferecer-se a Maria, na linha do que pretendem as Congregações Marianas, é entregar-se totalmente a Deus, como ela o fez, conforme sabemos de sua resposta ao anjo Gabriel: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38); é imitar o gesto do apóstolo e evangelista João que, no Calvário, tendo ouvido as palavras de Jesus – “Mulher, eis aí teu filho… Eis aí tua mãe” (Jo 19,26-27) – acolheu Maria em sua casa; é acolher Maria na própria vida; é aceitá-la como dom de Jesus, dado num momento muito especial, como foi o da Cruz; é reconhecer que somos seus filhos; é refugiar-se sob a sua proteção, vivendo a experiência de Jesus em Belém, no Egito, em Nazaré…; é renovar os votos batismais, respeitando, pois, a única mediação de Cristo.
Aquele que coloca sua vida sob o manto de Maria passa a conhecer melhor as características que marcaram seu jeito de ser: a disponibilidade (“Eis aqui a serva… Faça-se…”); o serviço (“Foi às pressas às montanhas, a uma cidade de Judá…”); a centralidade em Cristo (“Fazei o que ele vos disser”); a unidade com o Filho (“Junto à cruz de Jesus estavam de pé a sua mãe, a irmã…”); o apelo para trabalhar contra o pecado e suas causas, a favor da vida e a serviço da esperança; o empenho em favor dos necessitados; o trabalho para que cresça sempre mais o reino de Cristo, razão de ser da vida de Maria.
Por isso, louvo e agradeço a Deus pela presença das Congregações Marianas na Igreja e, particularmente, nesta Arquidiocese de São Salvador da Bahia. E parabenizo a Câmara dos Vereadores de Salvador que, a partir de uma iniciativa do Vereador Joceval Rodrigues, dedicou uma sessão especial a essa humilde e importante escola mariana.

Dom Murilo S.R. Krieger, scj

Arcebispo de São Salvador da Bahia, Primaz do Brasil

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